domingo, março 31, 2019

Especialista cita legado de Agnès Varda: “uma facilidade para romper com padrões”

Ewerton Ramos
PUC-Campinas

A morte de Agnès Varda, na última sexta-feira (29), pegou a todos de surpresa, pois o câncer, causa da morte, não havia sido revelado a imprensa. Ela morreu em sua casa, na França, cercada por familiares e amigos.

Juliana Sangion: "A gente hoje tem que
conhecer os trabalhos dela"
Para a doutora em cinema pela Unicamp e professora de jornalismo da PUC Campinas, Juliana Sangion, a cineasta deixa diversos legados, e dentre eles, o que mais se destaca é o de romper com os padrões. “Ela tinha uma facilidade de lidar com as novas linguagens, lembro de um vídeo em que ela falava como ela lidava com a rede do Instagram, aos quase 90 anos. Ou seja, uma facilidade para arriscar com novos formatos no audiovisual, tanto no cinema de ficção, quanto no de documentário, que ela fazia de modo incrível”, declarou Juliana.

Agnès era conhecida por ser uma das pioneiras da Nouvelle Vague, um movimento que surgiu na França na década de 50, e que reagia de forma contraria às superproduções hollywoodianas da época, trazendo para os cinemas filmes mais pessoais e baratos.

Para Juliana, Agnès Varda já era uma ativista do feminismo desde os anos 1950 e gostava de expor isso principalmente quando dirigia. “Mulher pode fazer cinema, ela começou a evidenciar isso por meio da sua própria atitude no cinema dos anos 1950”, afirmou Juliana.

Dentre suas obras podemos citar "Cléo das 5 às 7" (1962), "As duas faces da felicidade" (1965) e "Os renegados" (1985), pelo qual ganhou um Leão de Ouro no Festival de Veneza. Varda foi indicada ao Oscar em 2018, mas acabou não vencendo. Para Juliana, devido à comunicação em massa, a cineasta não tinha a mesma proporção de fama dada a cineastas de blockbusters:  “Não é todo mundo que a conhecia, principalmente porque não é todo mundo que tem acesso, devido à cultura de massa. A cultura de massa padroniza tudo, ela define o que chega para nós, em que quantidade chega, definindo o acesso aos filmes, então é obvio que não é todo mundo que ouviu um dia falar nela”, afirmou Juliana.

Sangion ainda ressalta que a morte de Agnès Varda não apaga suas próprias histórias, e suas obras podem ser acessadas e vistas ainda por quem se interessar a conhecê-la: “A gente hoje tem que conhecer os trabalhos dela, conhecer o que foi o movimento da Nouvelle Vague. Nem todo mundo conheceu ela, mas está aí a oportunidade de buscar conhecer e entender a obra deixada por ela, inclusive não só a dela, mas também de diretores e diretoras da Europa e também do Brasil”, finalizou.

Nenhum comentário: