terça-feira, abril 16, 2019

Desemprego no Brasil atinge 13,1 milhões de pessoas

Isabeli Lemos
PUC-Campinas

Fila de trabalhadores em busca de
emprego no CPAT de Campinas
O número de pessoas desempregadas no Brasil subiu para 12,4% no trimestre encerrado em fevereiro de 2019, atingindo 13,1 milhões de pessoas, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 29 de março. De acordo com registros feitos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), esse percentual está acima do marco de desemprego feito em novembro de 2018, que apontava 11,6%. A alta representa a entrada de 892 mil pessoas na população desocupada.

O IBGE também apontou que a população fora da força de trabalho alcançou 65,7 milhões de pessoas, a maior da série do Instituto, crescendo 0,9% frente aos três meses anteriores e 1,2% na comparação com o mesmo trimestre de 2018. Já a população ocupada ficou em 92,1 milhões de pessoas, o que representa a queda de 1,1% frente aos três meses anteriores (menos 1,062 milhão).


 É muito necessária uma boa qualificação para a entrada no mercado de trabalho 
Silvia Garcia, coordenadora do CPAT SINE
Com o desemprego em alta, é possível observar nas grandes cidades as filas de pessoas em busca de uma vaga de trabalho. Em Campinas, o CPAT (Centro Público de Apoio ao Trabalhador), órgão vinculado à Secretaria Municipal de Trabalho e Renda de Campinas, que seleciona e encaminha trabalhadores para vagas de emprego, sente a dificuldade da população em encontrar um serviço. A coordenadora do CPAT SINE, Silvia Garcia, afirma que a causa do desemprego não se refere apenas pela falta de vagas, mas também pela eliminação de cargos que já existiam e a exigência de qualificação. “É natural que as empresas fiquem cada vez mais exigentes. É muito necessária uma boa qualificação para a entrada no mercado de trabalho”, comenta.

Criação de vagas ainda deixa a desejar
De acordo com os dados do CAGED disponibilizados pela assessoria de imprensa da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), a tendência é que, no decorrer do ano de 2019, tenha-se uma melhoria de emprego por causa da evolução positiva nos postos de trabalho. Os dados demonstram que, em fevereiro, foram gerados 173.139 postos de trabalho no país, cerca de 183,0% acima dos 61.188 desse mesmo mês no ano de 2018. Em Campinas foram gerados em fevereiro 1.931 postos, o que representa uma evolução de 63,92% em relação aos 1.178 gerados em fevereiro de 2018. O único segmento que mostrou eliminação de postos de trabalho foi a agropecuária (-23), mas a Indústria, os Serviços, o Comércio e a Construção Civil, geraram 1.936 postos, que começam a indicar boas perspectivas de melhora para o emprego no município, para 2019.

 O impacto da Reforma Previdenciária do novo governo gera ainda, incertezas para a economia
Laerte Martins
Embora a expectativa é que aumente o número de vagas, de acordo com o economista diretor da Acic, Laerte Martins, essa é uma recuperação muito lenta uma vez que a perda na geração de postos de trabalho foi muito elevada, entre 2016, 2017 e 2018. “O mercado espera uma boa recuperação para este ano, mas o impacto da Reforma Previdenciária do novo governo gera ainda, incertezas para a economia, que necessita crescer bem mais do que tem expandido”, afirma Laerte.

Grande parte da população que sofre com o desemprego são os jovens. Marcel Ferraz, formado em biologia há 2 anos pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), acredita que a causa que o levou a ficar desempregado por 1 ano e 4 meses foi a grande concorrência e a falta de vagas na área: “por não existir muitas vagas para a biologia e ter muita gente já formado, mas desempregado, isso acabou me causando a falta de emprego ou tendo que recorrer a outro tipo de serviço”, comenta.

 A formação no ensino superior e a realização de estágios pode aumentar as chances de ingressar no mercado, mas ainda não é garantia de empregabilidade
Bruna Wargas
Para a professora de economia da Unicamp, Bruna Wargas, o caso dos jovens é bastante emblemático, tendo em vista os dados do IBGE (2019), que aponta 26% de jovens entre 18 e 24 anos desempregados, uma taxa bastante superior à média de desemprego do país que figura em 12,4%. “Uma das explicações está na questão da experiência, o que dificulta a entrada no mercado de trabalho. A formação no ensino superior e a realização de estágios pode aumentar as chances de ingressar no mercado, mas ainda não é garantia de empregabilidade”, diz Bruna.

As muitas tensões do mercado estão em torno das expectativas do governo em aprovar medidas como a reforma da previdência. Além disso, para os economistas Bruna Wargas e Laerte Martins, a causa da diminuição do emprego está intimamente ligado ao crescimento do PIB, que vem se expandindo a taxas muito baixas (0,9% / 1,0%). A perspectiva para este ano, é de um crescimento tímido, sendo que o PIB deve crescer 2%, de acordo com o IPEA (2019). Ou seja, o movimento ainda é muito incerto, mas espera-se uma estabilidade em geral com relação ao desemprego.

Microempreendedores
O número de microempreendedores individuais em Campinas cresceu 16,55% no primeiro trimestre de 2019, em comparação com 2018. Para Bruna Wargas, é muito comum que em momento de elevado desemprego a busca por alternativas de se realocar no mercado, passam pela alternativa do empreendedorismo, mas acaba não sendo uma boa opção. “Muitas vezes, essa alternativa acaba frustrada, pois a entrada em um determinado mercado demanda um planejamento, analisar o mercado, concorrentes, clientes, fluxos de caixa etc.”, explica. Ademais, a taxa de empresas que fecham no primeiro ano de funcionamento no Brasil é bastante elevada.

Criação de vagas
O governo divulgou no dia 24 de março que, em 2018, o País criou 529 mil postos com carteira assinada, após 3 anos seguidos de demissões superando as contratações. A projeção dos economistas para 2019 está entre 590 mil e 870 mil de vagas com carteira assinada, mas a taxa de desemprego ainda deve ficar acima de 10%. O trabalho informal continuará a superar o emprego formal, e a taxa de desemprego deverá terminar o ano ainda em dois dígitos.

Bolsonaro

 Temos que ter uma taxa não de desempregados e sim de empregados
Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro criticou a metodologia adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para medir a taxa de desemprego no Brasil, após divulgarem um crescimento de 0,8% no último trimestre. O presidente afirma que ela tende a elevar o índice em momento nos quais a economia está se recuperando de crises.

O IBGE, assim como órgãos de estatística de outros países, considera como desempregados apenas as pessoas que estão procurando, mas não conseguiram encontrar um emprego. Os que não possuem emprego e não estão procurando são enquadrados em outra categoria, de população desalentada.

Para Bolsonaro, o problema com os dados do IBGE é que, quando há uma pequena melhora na perspectiva econômica, essas pessoas que não estavam procurando emprego, procuram, e, quando procuram e não acham, aumenta a taxa de desemprego. “É uma coisa que não mede a realidade. Parecem índices que são feitos para enganar a população”, comenta Bolsonaro.

Em nota, o IBGE declarou que “a metodologia adotada segue recomendações dos organismos internacionais, em especial a Organização Internacional do Trabalho (OIT), com o intuito de garantir a comparabilidade com outros países”. Mas, em entrevista à rede de televisão Record, no dia 1º de abril, Bolsonaro afirma que essa metodologia aplicada em outros países não é a mais correta. “É fácil ter a metodologia precisa no tocante à taxa de desemprego. É você ver dados bancários, dados junto à Secretaria de Trabalho, quantos empregos geramos a mais ou a menos no mês”, disse o presidente.

Essa não é a primeira vez que Bolsonaro faz críticas ao IBGE. Em novembro de 2018, ele expôs que quer mudar a metodologia do cálculo da taxa de desemprego. Segundo ele, beneficiários do Bolsa Família são contabilizados como empregados. “O que está aí é uma farsa. Quem recebe Bolsa Família é tido como empregado, quem não procura emprego há mais de um ano é tido como empregado. Temos que ter uma taxa não de desempregados e sim de empregados”, afirma. Como resposta, o IBGE negou essa informação.

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