quinta-feira, abril 18, 2019

Os esquecidos pelo mercado de trabalho

Priscila Alves 
PUC Campinas

Fernando Vicente, deficiente visual: "sei que empresas não querem investir
em um software de reconhecimento de voz"
Campinas tem mais de 47 mil empresas ativas, com mais de 450 mil funcionários, mas poucos desses empregos são ocupados por deficientes físicos.

Segundo o último levantamento do IBGE, Campinas possui mais de 250 mil pessoas com alguma deficiência física, dentre elas aproximadamente 165 mil na idade produtiva, aptas para o trabalho. Mas onde sobra oferta, faltam oportunidades.

A população total de pessoas com deficiência em Campinas correspondia a um total de 305.279 pessoas em 2010, um equivalente a 28,29% da população total. As com deficiência visual representam 16,9%, as com deficiência auditiva, 4,5% e as com deficiência motora chegavam a 5,9%, enquanto as que possuíam alguma deficiência mental ou intelectual representavam 1,05% da população campineira, mas menos de 1% dessas pessoas em idade produtiva estão empregadas.

Para o vendedor autônomo Fernando Vicente, a lei deveria garantir as oportunidades de emprego mas, na prática, a história é outra: “eu, que sou deficiente visual, sei que empresas não querem investir em um software de reconhecimento de voz, por exemplo, para ter um deficiente visual trabalhando para eles, são equipamentos de acessibilidade caros” declarou.


De acordo com o artigo 93 da Lei nº 8.213/91, conhecida como Lei de Cotas, as empresas que têm de 100 a 200 funcionários precisam reservar, obrigatoriamente, 2% de suas vagas para pessoas com deficiência; de 201 a 500 funcionários, são 3%; entre 501 e mil funcionários, 4%; e empresas com mais de mil funcionários devem reservar 5% das suas vagas de trabalho para PCD. Mas segundo levantamento do RAIS (Relações Anuais de informações Sociais) do Ministério do Trabalho, a participação de deficientes no mercado de trabalho formal, não chega a 1%.

Segundo Fernando, que faz curso para especialização em vendas, o deficiente é capaz, mais faltam investimentos por partes das empresas e fiscalização por parte do poder público.

“Hoje na minha casa, a única com emprego formal é minha esposa. Ela trabalha em uma multinacional com mais de 3 mil funcionários, mas no setor dela, só tem ela e mais uma com deficiência visual”, conta. "Uma empresa com essa quantidade teria que ter no mínimo 5% de deficientes físicos, segundo a lei, então a matemática não bate", complementou.

Número de vínculo formal de pessoas com e sem
deficiência no Brasil entre os anos de 2007 a 2017

As dificuldades enfrentadas pelos deficientes são diversas. Andar pelas calçadas, superar o preconceito da sociedade e tentar garantir seus direitos básicos são algumas delas. Entretanto, no mercado de trabalho, a coisa piora, devido às suas limitações. as adaptações necessárias que as empresas precisam fornecer para receber um funcionário com algumas limitações, fazem com as chances no mercado de trabalho fiquem limitadas.

“A lei está para ser praticada, mas a falta de fiscalização impede de serem cumpridas, e quando não se tem oportunidades no mercado, acabamos partindo para a informalidade, sem direitos trabalhistas assegurados. Hoje, por exemplo, para obter uma renda, faço minhas vendas de trufas. Porque mesmo os com qualificação, em idade produtiva e com vontade de trabalhar, não consegui um lugar no mercado de trabalho”, explica Fernando.

Hoje existem algumas entidades que trabalham para ajudar deficientes a integrar o mercado formal, como o CIAPD, um órgão complementar da Reitoria vinculada à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da PUC-Campinas, criado em 1999, que desde 2015 vem desenvolvendo o Projeto “ Preparando Pessoas com Deficiência para Inclusão no Mundo do Trabalho”, que auxilia na preparação, ingresso e permanência no mercado.

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