domingo, junho 02, 2019

ONG organiza aula de alfabetização para estrangeiros em Indaiatuba

Por Caroline Vieira 
PUC-Campinas

Voluntário da Turma do Tutty conversa com imigrantes
A primeira aula do Projeto "Alfabetização para Estrangeiros" da Turma do Tutty, ONG do município de Indaiatuba, aconteceu neste sábado, dia 1º. O projeto visa ensinar a Língua Portuguesa aos estrangeiros refugiados da região e contou com mais de 20 alunos haitianos em seu primeiro dia.

O evento aconteceu na Avenida Francisco de Paula Leite, 260 – Centro, e recebeu 23 alunos da região de origem haitiana, no entanto o projeto acolhe todos as nacionalidades necessitadas. Voluntários se reuniram para ajudar e aplicar a aula, na qual foram abordados assuntos práticos do dia-a-dia com materiais didáticos elaborados pelo Ministério da Justiça. A equipe, que antecipadamente realizou pesquisas sobre o idioma crioulo haitiano, ainda preparou pastas com cadernos para que os alunos pudessem estudar a gramática e pronúncia do português. Após uma dinâmica com letras do alfabeto, a ação foi finalizada com lanche para todos.

Haitiana treina escrita em português
A aula foi inaugural, experimental, analisando o nível de conhecimento dos integrantes, as próximas reuniões terão uma direção especial e nivelada as suas dificuldades. “Eles conseguem entender o que falamos por conta da leitura labial, mas eles não conseguem entender o português escrito, em decorrência de sua complexidade”, diz Antonio Herrera, idealizador do projeto. “Nós nos colocamos no lugar deles, imaginamos a gente lá e portanto queremos capacitá-los e prepará-los para o mercado de trabalho”. Relata ainda que a ONG recorreu à Prefeitura, por meio do CREA, mas a instituição informou não possuir dados do numero de imigrantes que habitam a cidade.

Flits Neo Quei, auxiliar de serviços de restaurante, conta que gostou muito da aula. Perguntado sobre suas dificuldades, ele respondeu: “só a escrita”. Estava em dúvida com as palavras “quanto”, “quando”, ”porque” e “para quê”, que repetia com ajuda da professora. Já Diana August, auxiliar de limpeza, diz não ter encontrado nenhuma dificuldade e ressaltou a importância de aprender o idioma “a gente mora no país. Preciso escrever e falar bem, para poder procurar um emprego”, afirmou. “Eu acho que aprendo melhor escrevendo, porque a gente aprende as letras”, concluiu.

Evenz Beteron, auxiliar de serviços, conta que gostou do evento e não encontrou dificuldades durante a aula mas acrescentou: “a língua é difícil, muito diferente. Eu falo mais ou menos, entendo mais ou menos”. Ele ainda contou de sua família que ficou em seu país, e que trouxe apenas o irmão, “Tudo amigo” disse apontando para os colegas a sua volta.

João Hamilton Bastos, coordenador do curso, conta que o objetivo das aulas não é somente alfabetizar, mas também acolher e incluir os estrangeiros na sociedade. “Muitos deles possuem estudos, mas estão desempregados ou em cargos de posições muito baixa para o seu nível de qualificação”, disse. “Ser negro no Brasil é difícil, ainda mais quando se é um estrangeiro que veio no seu país porque houve um terremoto, onde todo mundo passa dificuldade e miséria, exceto os governantes. Eles vêm para cá em busca de realizar seus sonhos e nós queremos ser agentes transformadores que os ajudem a chegar o mais próximo do sonho deles”, ressaltou.

Haitianos
Dorival Narciso, presidente da igreja Batista Central, que apoiou a ação, conta que diversos estrangeiros tem formação em seu país, “como por exemplo, advogados, engenheiros e professores, e até mesmo possuem outro idioma como o francês, entretanto não conhecem a cultura e os comportamentos brasileiros”, afirmou.

Vania Aparecida Boscolo, formada em pedagogia, matemática e psicopedagogia, foi quem aplicou a aula aos alunos. Ela diz ter percebido uma maior dificuldade por parte dos alunos nas sílabas complexas, e com as letras G e H. “Fizemos uma dinâmica, que primeiramente pensei em executar na sala, mas como não tínhamos muito espaço, acabamos indo pro lado de fora com objetivo de expor o alfabeto. Um ia ajudando o outro e tudo acabou tornando-se uma socialização e o reconhecimento das letras”, apontou.

Para Marise Antunes Belmont Pereira, supervisora de voluntários, o projeto é visto como um porto seguro, sem trocas, apenas com a intenção de acolher. “Eles são unidos e podemos aprender com eles também”, diz. “São pessoas amáveis, fáceis de lidar, carentes e com uma historia de vida muito triste e difícil, pois o Haiti infelizmente tinha pessoas com condições ruins e, após o terremoto, isso piorou ainda mais. Mas vejo que são pessoas de fé e que tem grandes sonhos de trazerem suas famílias para perto”, emocionou-se.

A Turma do Tutty
”Tutty em italiano significa “todos”, ou seja, “turma de todos”, ninguém fica excluído dessa turma”, disse Antonio Herrera sobre o projeto que tem como base sua historia de vida.

Iniciado há 13 anos, a Turma do Tutty surgiu depois de uma doação de brinquedos na comunidade no período natalino. Após perceber que as crianças precisavam de comida e roupas, o projeto se expandiu. “A gente chegava na casa pra entregar o brinquedo e víamos que a criança não tinha leite, a família não tinha comida. Então não adianta nada você dar um brinquedo se a criança está com a barriga vazia”, afirmou Herrera.

Hoje, 52 famílias são atendidas de forma direta e indireta mensalmente, contando também com programas de emprego. A ação social, sem finalidades religiosas e/ou políticas, é feita em diversos locais de Indaiatuba e região e oferece serviços como cortes de cabelo, limpeza de pele, elaboração de currículos, atendimento de advogados da OAB, pintura de rosto e entre outros, além da ajuda humanitária e social aos índios, bolivianos, nigerianos, haitianos, venezuelanos, colombianos etc. O projeto social pode ser encontrado na internet através do Facebook e do site www.antonioherrera.com.br.

Um comentário:

Unknown disse...

Bela matéria sintetizou o objetivo dos voluntários do Projeto de acolher e ajudar a todos. Obrigado a Caroline que escreveu.