quinta-feira, junho 06, 2019

Mesa redonda debate falta de prevenção contra tragédias no Brasil


Vinicius Vilas Boas Gonçalves
PUC-Campinas

Mesa redonda na sala 900
A falta de prevenção contra tragédias no Brasil foi o tema que dominou a mesa redonda “Crimes ambientais e desastres naturais: das políticas públicas às políticas territoriais”, realizada dia 31 de maio, na Sala 900 da PUC-Campinas. O evento integrou a V Semana de Geografia, promovida pela Faculdade de Geografia da PUC-Campinas, que ocorreu de 27 a 31 de maio na universidade, com o tema (Trans)formações em Curso: Políticas Territoriais e Análises Geográficas”.

A mesa redonda sobre crimes ambientais contou com Alfredo de Campos, professor de Geociências da Unicamp, com Danilo M
angava de Camargo, mestre em Geociências e Meio Ambiente pela Unesp de Rio Claro e técnico do Laboratório de Geografia e Geoprocessamento da universidade, e com Rodrigo Salomon, gerente de conteúdos e operações do Grupo Bandeirantes na cidade.

De acordo com Salomon, a prevenção contra desastres naturais exige a conscientização da população. “É um embate difícil, mas necessário. A comunicação no próprio bairro tem um papel muito importante. Essa questão de mobilização, de reeducação ambiental, tem um grande retorno. Nós desenvolvemos em Jundiaí, com a Defesa Civil e junto com a comunidade, a compreensão sobre a região e situações de risco, e foi totalmente efetiva a ação da Defesa Civil de lá, na região do Jardim Tamoio. Houve um aumento da conscientização por parte da população”, destacou.

Salomon contou também um pouco da sua participação no desastre de Brumadinho (MG). “Eu fiquei 12 dias em Brumadinho. Não sei dizer nada do que aconteceu após sair de lá, embora esteja sempre antenado nas coisas que estão acontecendo por meio de grupos de WhatsApp, pois não consegui me desvencilhar das histórias. A Defesa Civil de Brumadinho é praticamente inexistente. O responsável é um camarada, que é funcionário de carreira da Prefeitura, há ainda um amigo do prefeito e um voluntário... jamais, em tempo algum, fizeram um planejamento de Defesa Civil. O Corpo de Bombeiros não existe naquela cidade e polícia, apenas duas viaturas. A gente tem um dos maiores complexos de mineração do mundo naquela região e não houve planejamento da cidade, muito embora a cidade viva dos recursos da mina. Havia um plano de estratégia protocolado em Brumadinho, mas nem de longe era um plano possível de ser executado, ou que tivesse sido compartilhado com a própria comunidade. Nem as autoridades sabiam o que fazer, com exceção do Corpo de Bombeiros, que tinha um papel preponderante no resgate das vítimas, pois eles são treinados para atuar em situações como essa. Os órgãos públicos estavam despreparados e acabaram transferindo toda essa responsabilidade para a Vale”, disse.

Já o palestrante Alfredo de Campos, doutor do Instituto de Geociência da Unicamp, destacou:há um trabalho feito pouco tempo em Goiás, na bacia do Rio Araguaia. Foi percebido um esgotamento de nascentes naquela região, onde antes havia abundância, por conta do desmatamento das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de Reserva Legal. Cerca de 70% da floresta daquela área foi perdida. Percorrendo 30 quilômetros de carro, eu só presenciei a existência de duas castanheiras. Aquela área era região de floresta Amazônica... as responsabilidades por crimes ambientais não são tão efetivas, pois há uma impunidade, e por isso esse crime ainda se perpetua”, afirmou.

Para o mestre em Geociências e Meio Ambiente pela Unesp, Danilo Camargo, “os custos de um desastre, do ponto de vista econômico e social são muito altos”. Camargo acrescenta que “a recuperação efetiva acaba se tornando impossível, vista pelo viés econômico”.

Segundo Camargo, o mundo tem caminhado para uma nova versão do malthusianismo, doutrina do economista inglês T. R. Malthus (1766-1834) sobre o crescimento da população. Para o autor do século XVIII, a expansão populacional seria sempre maior que o dos meios de subsistência e a fome e a miséria só poderiam ser evitadas pelo controle populacional.

Danilo Camargo crê que os poderosos estão se valendo disso para lucrar mais sobre o tema da sustentabilidade. “Eu não acredito em sustentabilidade, mas eu acredito que temos que viver causando menos impacto ambiental possível. Nós precisamos nos educar para viver dessa maneira”, concluiu.

Interdisciplinaridade
Andressa Jociane Franzotti Menas, aluna de geografia que fez parte da comissão discente e uma das idealizadoras dessa edição do evento, destacou a importância da discussão do tema. Discutimos sobre os crimes ambientais e desastres naturais que vem ocorrendo atualmente, como Brumadinho e Mariana. A ideia foi discutir, de maneira interdisciplinar, estes assuntos tão impactantes na sociedade, para a criação de planejamento e políticas públicas para que essas coisas não ocorram mais.”

Para o diretor do Curso de Geografia e mediador da mesa redonda, Estefano Seneme Gobbi, a V Semana de Geografia foi um sucesso, no aspecto de discutir o assunto de forma interdisciplinar e completa. Ele acrescentou esperar que outras faculdades tomem iniciativas semelhantes.

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