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Agnelo Xavier Ruas e Eremita Ruas: dificuldades para estudar |
A variação de 2016 para 2017 do número de analfabetos foi um decréscimo de 0,2%. E, além dessa estatística de estagnação, a desigualdade entre as regiões brasileiras é presente nos dados coletados pela PNAD Contínua do IBGE. O Nordeste é, predominantemente, a região com mais analfabetos.
A pesquisa de 2016 também mostra que o nível de instrução de mais da metade da população brasileira é no máximo até o ensino médio.
Outro dado que não mostra mudanças significativas é a situação por cor. Os pretos e pardos somam mais que o dobro da quantia de brancos analfabetos no Brasil.
Trabalho no campo
Agnelo Xavier Ruas, de 88 anos, faz parte da maior parcela de analfabetismo no Brasil. Ele conta que seu trabalho nas plantações de seu pai começou desde criança, e que hoje, isso faz parte do que ele é. Com pais analfabetos e mais 9 irmãos, a distância e o trabalho precoce o impediram de estudar. As dificuldades da pequena Vila Monte Alegre (atual Maetinga), no interior da Bahia, o fizeram buscar melhor qualidade de vida em outro lugar.
Aos 43 anos, já casado e com 9 filhos, Ruas se mudou para o interior de São Paulo, mas a falta de estudo lhe custou caro. Os empregos de baixa remuneração eram tudo que lhe restava.
Ruas trabalhou como lenhador por anos até ser convidado para morar em uma fazenda e ter como função a colheita de laranjas. De lá, morou em uma cerâmica onde trabalhou por um tempo até, com ajuda do governo, conseguir um terreno em um bairro no município de Itu. Em São Paulo, Aos 79 anos, ele pôde voltar a estudar e aprendeu a escrever o próprio nome. Mas, por dificuldade no transporte, não conseguiu mais frequentar as aulas.
Sua esposa, Eremita Ruas, com pouco estudo, também não sabe escrever, mas aprendeu a ler algumas palavras. Agnelo diz com orgulho que, se a mulher tivesse ido para a escola, não teria pessoa mais inteligente no mundo, pois a mesma possui uma memória de se invejar. Hoje, com 88 anos, Agnelo não sabe escrever o próprio nome, e relata, com pesar, o arrependimento de não ter se dedicado aos estudos. Ele conta como a vida foi sofrida e acredita que o estudo teria facilitado a jornada. “Meu negócio era a roça e agora eu vejo quanto arrependimento de não ter estudado, mas agora é tarde, pra mim é tarde”.
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