terça-feira, abril 16, 2019

Venda de coelhos na Páscoa preocupa ativistas em defesa de animais

Mattheus Angelo Alves Lopes
PUC-Campinas

Fernanda Assumpção (esq.), vice-presidente do GAC,
e Karina Palomo, coordenadora financeira da
ONG com filhotes
A chegada da Páscoa prenuncia um ciclo vicioso no mundo pet: primeiro o aumento na venda de coelhos e depois o abandono de animais, no decorrer das semanas seguintes. Com vistas a acabar com essa comercialização, o Grupo de Apoio ao Coelho (GAC), realiza resgates e promove a adoção de coelhos desde 2016, incentivando a conscientização.

Santuzza Affonseca, uma das fundadoras do GAC, conta que, em 2016, a morte de sua coelha, de dois anos, foi causada por doenças decorrentes de o pet ser fruto de um cruzamento consanguíneo. O fato levou-a a querer adotar duas coelhas e, procurando informações, conheceu Delita Adelita e Gleice, outras fundadoras da ONG.

“Elas me ajudaram muito por conta que, na época, eu tive câncer e acabei me aproximando rotineiramente delas e, como os coelhos eram um dos assuntos principais, acabei descobrindo esse mundo de abandono e de como as pessoas são mal informadas sobre questões básicas envolvendo esses animais”, disse Affonseca.

Regina Klein, alemã que mora no
Brasil há 20 anos e que estava no centro
de adoção em Campinas para levar dois coelhos
Com uma fila enorme de pedidos de ajuda, o Grupo age de forma diferente dos demais: “primeiro nós resgatamos, levamos direto pro veterinário de animais exóticos, castramos e então colocamos no processo de adoção”, afirma. Santuzza Affonseca também conta que a adoção é uma prospecção detalhada de candidatos por conta de indivíduos que usam coelhos como comida para outros animais e treinamento com cães: “nosso objetivo principal é a adoção consciente. Desde as plataformas digitais até os futuros indivíduos que pretendem fornecer um lar para esses animais. Tentamos fazer de tudo para que a sociedade não incentive a compra nos petshops”, afirmou.

O Grupo disponibiliza formulários para os candidatos, visitação técnica nas casas, acompanhamento pós-adoção e, caso ocorra uma má adaptação das duas partes, que os donos devolvam os coelhos ao grupo e não deem para conhecidos. Quando perguntada sobre qual a principal diferença da adoção e de uma compra, Santuzza Affonseca lembra: “a diferença primordial é que nos petshops você não faz ideia sobre a origem desse coelho, porque até hoje eu não soube de nenhum lugar que fornece informações sobre de onde veio esse animal. Então, as condições desses criadouros ficam totalmente encobertas, desde o estresse com as fêmeas até o cruzamento entre coelhos que são irmãos (consanguinidade). Então de uma certa forma na sua compra você incentiva esse crime, por não saber como proceder”.


Como muitos pensam, as situações ilegais estão presentes também em ambientes onde se deveria promover a educação em diversos campos, a fundadora relembra de um resgate de um grande número de coelhos em uma escola de Campinas: “eles davam papelão pros coelhos comerem e me impressionou muito por ser um lugar de formação de pessoas, em que você espera que vai ter uma boa referência de cidadania. Isso foi no começo do GAC. Consequentemente, não tínhamos estrutura para fazer um bom trabalho, então pedíamos ajuda para a diretora da escola para que deixasse montar uma barraca durante a festa junina para arrecadar dinheiro, seguida de diversas negações da mesma, até que chegou o momento em que ela afirmou que, se fosse demorar muito para tirá-los de lá, que ela iria começar a dar os coelhos pras crianças”, lembrou.

De forma geral criou-se muitos mitos em torno da saúde desses animais, desde seus comportamentos, anos de vida e alimentação. Em entrevista com Morgana Prado, médica veterinária especialista em coelhos que atende no Hospital Veterinário Taquaral, ela aponta a necessidade de conhecimento do manejo nutricional e manejo ambiental: “nutricionalmente, são animais que precisam de alimentação com alto teor de fibra como, por exemplo, o feno, que é a base da alimentação deles, a casca de melancia, as frutas apenas duas vezes por semana, muita verdura verde escura, ficar longe das que são verde claro. Quanto à ração, nós indicamos para não deixar tanto à vontade, pois podem acabar deixando de lado as verduras. Ao contrário do que muitos acreditam, a cenoura deve ser dada diariamente porém em uma pequena quantidade. O problema dela é a taxa glicêmica e calórica. Muita gente deixa ração à vontade, cenoura e couve, dão muito mamão, muita banana... sendo esses alimentos com alto teor de açúcar e calorias”, destaca.

Muitas lojas, na compra de um coelho, oferecem uma gaiola, muitas vezes minúsculas em comparação a seus corpos. Morgana destaca que são animais que precisam de grande espaço para convivência: “se for ficar em gaiola, que seja uma grande, ou um cercado. Tem que ser um local com vários bebedouros pois não são animais que bebem muita água, porém isso pode variar. Se o coelho tem uma alimentação baseada na ração ele vai beber mais água do que aquele que come muitas verduras que já compensam sua hidratação. Eles necessitam de toca, algum lugar pra se esconder, casa de madeira atóxica que permite o desgaste dos dentes que é muito importante também”.

Uma das questões notadas nas entrevistas desta matéria é o erro da sexagem dos filhotes na hora da venda. A identificação sexual do coelho é muito difícil, pois o formato do pênis e da vulva deles (coelhos) são muito parecidos nas primeiras semanas. Muitos vendedores, procurando vender rápido, dizem que o “casal” na loja são dois machos ou duas fêmeas, o que muitas vezes não é verdade. Aí no futuro haverá filhotes e a família que comprou inicialmente o casal sem estruturas para comportar os animais acaba abandonando-os nas ruas, nos terrenos baldios ou até mesmo dão para pessoas de confiança mas que não têm conhecimento das formas de tratamento do animal. Um exemplo disso é a coelha Millie, resgatada pelo GAC que estava prenha.

Nesta Páscoa, o petshop Cobasi lançou uma nota oficial em seu site que não realizará a venda de coelhos, prevenindo o abandono em massa nos meses seguintes, seguido do posicionamento da empresa, é disponibilizado informações sobre os coelhos quanto à saúde e à alimentação.

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