PUC-Campinas
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Semana Acadêmica Indígena |
A data foi escolhida devido à proximidade do Dia do Índio (19). Entretanto, não se trata de uma celebração: “Não se comemora o dia do índio. Se afirma nossa cultura de várias maneiras. É um dia que, querendo ou não, estigmatiza ainda mais o índigena, porque nas escolas todos se vestem de índio, com tracinhos no rosto e cocar e saem cantando música da Xuxa. Isso não tem nada ver, é muito preconceituoso e estigmatizador. O dia 19 é um dia de luta”, diz Naldo Tukano, estudante de Linguística. “Soa como esnobar, ridicularizar nossa realidade” complementa Arlindo Alemão Gregório, estudante de Engenharia Elétrica. Ambos integraram a organização do evento.
A Semana Acadêmica Indígena existe justamente para tornar essa data mais voltada para conscientização e protesto, abordando as questões educacional e social. João, da etnia Baniwa, inicia sua fala em uma das palestras com a seguinte frase: “Nós, indígenas, também somos sociedade brasileira”. O objetivo principal é dialogar com a universidade, desmistificando a figura do indígena. “Nós acadêmicos temos não só a obrigação de fazer isso, de buscar dialogar com a própria Unicamp, mas com a própria sociedade. Para eles, somos um tipo de estrangeiros, mas na verdade não somos” diz Arlindo Gregório.
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Participantes da Semana Acadêmica Indígena |
Naldo Tukano também acredita que a culpa da ignorância em relação aos indígenas seja do sistema. “Existem pessoas que não nos compreendem por não terem a informação correta. Não é culpa deles, é culpa do sistema que ensina a ser preconceituoso. É lógico que tem pessoas que mesmo sabendo, tendo informação, ela continua sendo assim porque ela é ignorante e quer ser desse jeito.” Ele ainda ressalta que, dentro do sistema acadêmico, os indígenas vem tentando se adaptar à situação. O sentimento de comunhão com os outros indígenas os ajudam a superar as dificuldades. “Da nossa maneira, dentro do diálogo, vamos fazendo com que esses paradigmas sejam quebrados” diz Arlindo Gregório.
Uma das mudanças apontadas por Naldo Tukano é a mudança de linguagem: o uso da palavra “indígena” ao invés de “índio”. “O problema da palavra ‘índio’ é que ela tem uma carga totalmente negativa e pesada. Por trás dela tem todo um genocídio, etnocídio, dentre outras coisas. Sem falar que ‘índio’ é um metal da tabela periódica, não tem nada a ver com o sistema índio que eles querem informar. Sem falar que é um termo pejorativo, que eles usam para vários fins. O termo indígena se refere mais ao coletivo indígena, é para trabalharmos com o coletivo nesse sistema Brasil que a gente precisa de ações afirmativas, políticas públicas e nos sentirmos resistentes” Esse sentimento de coletividade pode ser notado em como eles se tratam entre si: Quando não se chamam pela etnia, referem-se uns aos outros como parentes.
Segundo a organização, a maioria das pessoas está disposta a aprender. “A gente está aprendendo e ensinando ao mesmo tempo”, diz Naldo Tukano. Eles consideram que a aderência aos eventos foi satisfatória. Os indígenas foram os responsáveis por receber a deputada Manuela D’Ávila, que concorreu como vice presidente do candidato Fernando Haddad nas eleições de 2018, no lançamento de seu livro Revolução Laura e debate sobre fake news. “Nós, como indígenas, toda nossa história viemos sofrendo com as fake news. Tal com histórias contadas didaticamente, nos livros, falando o que os indígenas não são. É isso que a gente está tentando trazer para a universidade: desmistificar nossa história”, diz Arlindo Gregório.
As palestras foram transmitidas ao vivo e podem ser acessadas tanto pelo evento no Facebook quanto pela página Acadêmicos Indígenas da Unicamp.
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