quinta-feira, abril 04, 2019

Vizinhos criam galinheiro comunitário para espantar escorpiões em Piracicaba

Caroline Vieira
PUC-Campinas

Para combater escorpiões, os vizinhos do Jardim Pacaembu, em Piracicaba se uniram e resolveram criar galinhas em terreno localizado no bairro. A medida, segundo explicaram, foi tomada depois de vários pedidos de providências para a Prefeitura. Cada um doou um pouco de dinheiro para tentar amenizar a situação dos escorpiões com ‘predadores’ que seriam as galinhas.

Segundo a comunidade, o problema com escorpiões vem acontecendo há anos em um terreno próximo abandonado. Mesmo com várias notificações para a Prefeitura, limpezas e dedetizações nunca chegaram a serem feitas pelo dono, inclusive, aproveitando o descuido, entulhos eram jogados por gente de outros bairros. Após a primeira criança do bairro ser picada, os vizinhos do Jardim Pacaembu se mobilizaram para a criação de um galinheiro comunitário.

Camila Botteon Basso, empresária, residente do bairro, conta que encontra em média de 6 a 7 escorpiões por semana em sua casa. Sua filha de 1 ano e 7 meses, na época, teve o braço picado. “Ela estava dormindo comigo na cama e acordou de madrugada gritando muito. Eu tirei o vestidinho e já pensei que podia ser alguma coisa. Na seqüência, ela começou a vomitar muito. Meu marido veio, tirou todo o lençol da cama e já pôs na maquina, mas não encontramos o escorpião, acredito que foi triturado na máquina”, disse. A picada foi notada após a menina ser levada para o banho.

Imediatamente Camila e o marido levaram a criança para a Santa Casa de Piracicaba para tomar soro. “Ela não tinha reação nenhuma, vomitou por um período de uma hora e, em seguida, ficou muito prostrada. Dormiu e não tinha reação. Mas graças a Deus a médica falou que, tanto pelo formato da ferida quanto pela reação, o organismo dela estava conseguindo combater o veneno. Então não tinha necessidade de fazer a aplicação do soro, porque ele poderia também agravar alguma coisa na saúde dela” relata.

Perguntada se outras crianças já tinham sido picadas além de sua filha, respondeu: “Só na minha rua foram três crianças”. Pedreiros que trabalham em obras por perto da casa de Camila também encontram 5 ou 6 escorpiões por dia. “Toda semana a gente ouve falar de um escorpião que foi encontrado” conta. A empresária precisa fazer dedetização da casa e também nos bueiros próximos, pois a prefeitura bem como, não faz manutenção desses.

Os vizinhos não sentiram diminuição na quantidade de escorpiões que vinham encontrando no Jardim Pacaembu, mas a escala permaneceu relativa em comparação com outros bairros em que não foram colocadas as galinhas, dado que, nesses, aumentaram os números de escorpiões. “É claro, a gente quer eliminar, mas não tivemos um aumento no numero de escorpiões no decorrer do tempo. Pelo menos com as galinhas estamos conseguindo manter. E deu uma espaçada mais no tempo que eles aparecem: antigamente era todo dia, agora encontramos duas, três vezes por semana.” analisa a moradora.

Monica Pinto de Oliveira, professora de Zoologia da PUC-Campinas, conta que as galinhas nem sempre darão conta de seus papéis como “predadoras”, já que os escorpiões têm hábitos noturnos e, na maioria das vezes, se escondem durante o dia para à noite sair para se alimentar e reproduzir. As galinhas com seus hábitos diurnos não garantiriam 100%, mas poderiam ajudar parcialmente como meio de combate.

“Aqui na nossa região existem dois tipos de escorpião, conhecidos popularmente como escorpião marrom e escorpião amarelo, Tityus bahiensi e Tityus serrulatus, respectivamente. O amarelo é o mais perigoso e seu veneno, que é neurotóxico, pode matar. Crianças e pessoas de idade são mais sensíveis, não têm tanta resistência, então pode ocorrer a morte”, disse a zoóloga . A professora procurar imediatamente hospitais como a Unicamp, que têm soro antiescorpiônico. É aconselhável colocar o animal dentro de um vidro (com as mãos cobertas ou com uma pinça), colocar álcool e levar ao hospital para a identificação da espécie.

Além da dor no local da picada, podem ocorrer sintomas como náuseas, suor intenso, dores abdominais, vômitos, aumento ou diminuição da pressão, diarréias, taquicardia, insuficiência cardíaca e muitas vezes edema pulmonar. Casos graves culminar com a morte da pessoa atacada.

Monica Oliveira recomenda ainda algumas práticas básicas para a prevenção de escorpiões: fechar a porta com protetor, vedar janelas; ao calçar um tênis, vestir uma blusa ou camiseta que esteja dobrada no guarda roupa, abrir e bater para não correr o risco de haver escorpião; verificar camas e sacudir lençóis, principalmente à noite. A profissional ainda indica procurar diretamente um Centro de Zoonoses, caso a prefeitura não esteja resolvendo o problema.

“A gente espera que haja pelo menos a manutenção desses terrenos que estão sendo abandonados: leis mais severas para donos que não tomam conta, para que eles façam a limpeza devida. Há também os bueiros. O bueiro é uma responsabilidade da prefeitura, não minha. E eu acabo comprando veneno e jogando duas ou três vezes por semana para tentar diminuir o risco”, reclama Camila Basso. 

“Tenho três filhas e a menorzinha já foi picada porque o risco é muito grande, a maioria, não sei por quê, eu encontro sempre no quarto delas. Já encontrei em cima da cama, dentro de gaveta... é uma situação bem complicada, bem arriscada. A gente se sente impotente e insegura. Por mais que façamos tudo que está ao nosso alcance, sem ter ajuda da prefeitura fica difícil. Complicado!” finaliza a empresária.

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