quarta-feira, maio 01, 2019

Fatecs de Indaiatuba e Sumaré promovem Semana de Libras

Letícia Gabrielle Ferreira de Andrade 
PUC-Campinas

A professora Lígia Cristina de Souza
Canova: "Surdos estão conquistando seu espaço"
As Fatecs de Indaiatuba e Sumaré promoveram, entre os dias 22 e 26 de abril, a Semana de Libras (Língua Brasileira de Sinais). O objetivo foi promover o protagonismo de surdos e deficientes auditivos, que totalizam 4,6% da população brasileira. O evento está em sua terceira edição. A primeira foi em 2017.

“Os surdos são protagonistas, aqueles que lutam, brigam e reivindicam os direitos que a eles são garantidos”, disse a professora Lígia Cristina de Souza Canova, de 40 anos, pós-graduada em Libras e coordenadora do evento.

Segundo Canova, a ideia de promover a Semana de Libras surgiu em 2016. Naquele ano, ela promoveu um debate sobre a escrita da língua de sinais (signwriting) e da língua americana de sinais (ASL) com os especialistas Salomé Dallan e Jason Nichols.

Paloma Santana Peres da Silva: "Era horrível não
conseguir falar com a minha própria mãe"
A inclusão de pessoas surdas na sociedade ainda é muito precária, é o que afirma a auxiliar logística Paloma Santana Peres da Silva, de 18 anos, filha de mãe surda. Sobre as dificuldades que encontrou durante sua infância e adolescência, disse: “a audição dela era muito delicada, eu não conseguia me comunicar, pois não sabia, então tinha que escrever tudo. Era horrível não conseguir falar com a minha própria mãe, então fui atrás de aprender a falar Libras, fiz algumas aulas com uma amiga da minha mãe e também aprendi com ela mesma”, disse.

Surdos e deficientes auditivos encontram grande dificuldade para conseguir realizar tarefas simples do dia a dia, como ir ao médico por exemplo. “É bem difícil ter alguém no local que saiba falar libras. Por esse motivo, ela não podia andar sozinha. Sempre tinha alguém da minha família ou eu mesma que ia junto para conseguir falar por ela”, disse Paloma.

Para a professora Lígia Canova, “o desejo é sempre de plantar a sementinha e proporcionar ao conhecimento desta cultura. Na 2ª edição do evento, tivemos três palestrantes surdos para mostrar à população que eles têm voz. Estão no mercado de trabalho e desenvolvem cadeiras acadêmicas”, afirmou.

Canova defende “uma proposta de educação bilíngue, em que se tramitaria a língua portuguesa e Libras. Se de fato isso ocorresse, as crianças surdas e ouvintes (termo usado para classificar as pessoas que ouvem) se misturariam e o uso comum da Libras a tornaria difundida entre a população. Se a sociedade fosse conscientizada desde o nascimento do bebê, muitas implicações culturais cairiam por terra. Mas a saúde pública carece de cuidados para que o número de surdos e deficientes auditivos natos diminuam. Se de fato a sociedade estivesse engajada em maior número, as dificuldades de acesso seriam menores”, disse.

A Libras foi criada sob a inspiração da Língua Francesa de Sinais. Em 1857, a pedido de Dom Pedro II, o conde francês Hernest Huet, que era surdo, veio ao Brasil para abrir a primeira escola voltada para deficientes auditivos. Os surdos brasileiros já possuíam alguns sinais para se comunicar e incorporaram os sinais da Língua Francesa de Sinais, dando origem a Libras.

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