sábado, março 30, 2019

Serviço ‘bancário’ usa o tempo como moeda de troca

Amanda Florentino 
PUC-Campinas


O estudante Vitor Suzukawa,
de 24 anos, administrador do
Banco de Tempo Barão Geraldo
Eles já reuniram mais de 1,5 mil “correntistas” desde sua criação, em agosto de 2017: o Banco de Tempo de Barão Geraldo (https://www.facebook.com/BancodeTempoBG/) não é um banco comum: ele deixa o dinheiro de lado e usa o tempo como moeda de troca. Para qualquer “transação”, todas as horas têm o mesmo valor: quem participa compromete-se a dar e a receber tempo.
A ideia teria surgido na Itália há vinte anos e, em Portugal, há quinze. No Brasil, o sistema existe há pouquíssimo tempo, tendo-se popularizado mais no sul do País. O propósito foi de fazer valer a troca de experiências e a socialização da comunidade.

A iniciativa em Campinas foi desenvolvida por estudantes da Unicamp e, segundo Maira Trentin, aluna do curso de Pedagogia da universidade e uma das administradoras do projeto, as trocas têm se realizado de maneira bastante fluidas. Ela conta que o Banco de Tempo (BT) é uma proposta que, no país, surgiu em Florianópolis há cerca de quatro anos e que, em agosto de 2017, uma amiga lhe contou sobre o projeto: “fiquei extremamente empolgada e perguntei como faríamos para participar. Como um dos critérios do BT é que seja por localidade, ela me informou que teríamos que iniciar essa organização aqui pela nossa região, então logo estávamos com o BT Barão Geraldo em funcionamento”, diz Maira.


Geralmente, nos BTs, todas organizações das trocas acontecem virtualmente, por meio de redes sociais, que é o mesmo modelo de trabalho implantado em Barão Geraldo. A plataforma utilizada por eles é o Facebook. Eles têm ainda uma fanpage no Facebook: https://www.facebook.com/BancodeTempoBG/, com 400 curtidores. Vitor Suzukawa, aluno de Química da Unicamp e também um dos administradores do BT Barão Geraldo, conta que os membros do Banco estão se mobilizando para passar o sistema para uma outra plataforma que seja mais autônoma, para isso estão desenvolvendo um aplicativo para mobile. O estudante conta que, em geral, os BTs não possuem uma sede física, “Nós do BT Barão Geraldo, também não temos (uma sede física), quando precisamos nos reunir para conversar e decidir coisas que demandam mais envolvimento, costumamos nos reunir na casa de um dos administradores voluntários ou na própria Unicamp”, disse.

Para ser um membro do BT da região, a pessoa deve entrar no grupo do Facebook "Banco de Tempo Barão Geraldo" e pedir para participar. O critério é ser de Campinas ou ter algum vínculo com a Unicamp, pois assim fica entendido pelos administradores que mesmo que a pessoa more em outra cidade, ela costuma ter a mobilidade de ir a Barão Geraldo para poder oferecer seu serviço, uma vez que todas as trocas devem acontecer no distrito.

Ao ser aceito, o interessado tem acesso a um tutorial e também a informações para que entenda o funcionamento do BT. O internauta acessa um link disponibilizado após a aprovação e, então, deve se cadastrar, informando em uma planilha informações básicas e quais são os serviços e/ou produtos que gostaria de oferecer. O cadastro fica salvo em uma planilha que todos os membros do grupo têm acesso. Dessa forma, o “correntista” divulga seus talentos para o grupo, oferecendo-os aos membros. Ao concluir o cadastro, a pessoa ganha, inicialmente, 4 horas para começar a ter giro e a usufruir dos serviços assim como, automaticamente, doa 6 horas para o BT: “essas horas doadas ao BT são usadas em projetos ou ações sociais, e também ‘financiam’ projetos que antes aconteciam de forma voluntária”, diz Maira.

Quando alguém entrar em contato requerendo uma troca, deve-se combinar o dia, o horário e informações específicas, assim como postar de forma pública no grupo, para que todos saibam o que tem acontecido. “Isso é feito também como medida de segurança”, explica Maira. Após a troca, a pessoa que utilizou o serviço preenche um formulário fazendo uma avaliação e indicando quanto tempo está transferindo para quem ofereceu o talento. Então, os voluntários do Banco pegam esses dados e inserem na planilha oficial. Vitor explica ainda que o "custo" deve sempre equivaler ao período de tempo que o produto ou serviço leva para acontecer: “uma hora de aula, seja qual for o conteúdo, custará uma hora. Um serviço ou alimento custará o tempo necessário para sua execução”, diz o estudante.

Os administradores explicam que a principal proposta dos BTs é buscar a ressignificação das práticas sociais envoltas no consumo. “O que nós propomos é repensar conceitos como equidade entre serviços, acúmulo de capital, dívidas -conceito que não existe neste sistema-, reorganização do próprio tempo diário para que se possa oferecer ou usufruir de serviços etc. Ao repensar essas questões, vemos que a relação entre proponentes e ‘contratantes’ se torna muito mais próxima, empática e horizontal” destaca Maira.

Vitor e Maira contam que possuem um feedback bastante positivo dos membros, “todos gostam bastante”, afirma Vitor. “Uma história marcante para nós foi a do Mateus e seu maravilhoso pão caseiro. Ele vendia tanto pão que, depois de um tempo, ao invés de vender o pão, ele começou a oferecer aulas de como fazer o pão, dessa forma, não se sobrecarregou e proporcionou para as pessoas autonomia para preparo do alimento”, conta Maira.

Ambos contam que a maior e mais frequente ponderação antes de entrar no grupo é ‘ah, mas eu não tenho tempo’. “Então dizemos que aí está uma ótima oportunidade de se reorganizar e passar a cuidar mais de si e do mundo que está ao nosso redor”, propõe Vitor.

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