quinta-feira, abril 04, 2019

Elas não querem fazer sentido só na prostituição, querem espaço e aceitação

Bianca Sanson
PUC-Campinas

Casa 1 na Capital Paulista: ma espécie de república
de acolhimento para pessoas LGBT
Loren, como prefere ser chamada, faz parte do grupo das transsexuais, porém existe um problema muito maior, em sua maioria a prostituição não é uma escolha, e sim um caminho para a sobrevivência.

Loren, cabeleireira, travesti, 35 anos e atualmente moradora de rua, circula pelas ruas da Avenida Paulista pedindo auxílio, pois se encontra diagnosticada com AIDS. Ela veio de Recife, onde encontrou na internet uma proposta de emprego, num suposto salão de beleza muito conceituado aqui em São Paulo. O problema é que ao chegar na capital paulistana, as coisas não eram como ela imaginava: a proposta na verdade vinha de uma cafetina, que enganava diversas travestis, transexuais pelo Brasil, prometendo uma vida completamente diferente da qual ela oferecia.

Sem amigos, família, oportunidade e dinheiro, Loren e muitas outras mulheres dessa comunidade acabam nessa condição. Anos depois, devido à doença, ficou sem emprego, desabrigada, e esperando por tratamentos públicos, ela acredita que um dia voltará para casa, e irá sobreviver a esta patologia grave, enquanto isso, ela busca refúgio em diversas ONGs e instituições que apoiam a comunidade LGBT, como é o caso da Casa 1, uma organização localizada na região central da cidade de São Paulo, uma espécie de república de acolhimento para pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) expulsas de casa por suas orientações afetivas sexuais e identidades de gênero.

Muitos membros da comunidade LGBT procuram instituições como essa, não somente porque a família rejeitou por a orientação sexual, mas também pela falta de oportunidades que rondam essas pessoas, a discriminação no mercado de trabalho vem crescendo muito.

A inclusão de transexuais, travestis e transgêneros em empresas brasileiras ainda é um desafio. Preconceito, desrespeito ao nome social e desconhecimento são apenas algumas das situações enfrentadas no ambiente de trabalho ou durante as seleções para um emprego.

De acordo com Iran Giusti, organizador da Casa 1, o que falta para essa comunidade é apoio e suporte emocional, e é exatamente isso que a organização faz, através também diversos projetos culturais. A casa possui um espaço para atividades culturais e educativas, que tem como foco promover a diversidade cultural e fomentar a produção de conhecimento. Em suas mais variadas propostas - oficinas, cursos, exposições, palestras, debates, exibições, etc.- o Centro Cultural no qual a organização possui se constitui como um espaço aberto e de diálogo, visando também a garantir um espaço seguro de criação e conhecimento para todas e todos.

Fundada em 25 de janeiro de 2017, com o auxílio de doações, é um projeto orgânico e está em constante ampliação. Sua sede principal está localizada na rua Condessa de São Joaquim, onde possui locação para até 20 moradores, uma biblioteca, um centro de convivência e um centro de acolhimento, onde distribuem roupas e produtos de higiene pessoal, para moradores de rua, atendendo mensalmente até 900 pessoas. Um dos casarões possuem salas para o atendimento de médicos, psicólogos e advogados. É um projeto de sociedade civil e dispõe de plataformas em que recebem diversas doações para manter o projeto. São feitos diversos movimentos, feiras tudo em prol da inclusão e debate de assuntos políticos, sociais, artísticos entre outros.

Segundo Reinaldo Bulgarelli, coordenador do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, a empregabilidade teve alguns avanços, mas ainda é preciso combater o preconceito. "O foco deve ser o combate à discriminação e a inserção no mercado de trabalho, sobretudo em grandes empresas. Isso vai ajudar a romper esse ciclo", ressalta ele.

Ao caminhar pela Augusta, Vila Matilde ou outras grandes rodovias e bairros de São Paulo pela madrugada, você facilmente encontra pelas calçadas travestis ou transsexuais no meio da prostituição, o que está em julgo não é a profissão ou escolha dela, mas a falta de oportunidade que 50% desse público não tem e que recorre a este processo.

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